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:: 30.3.04 ::
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Fazemos uma pausa para apresentar a Introdução ao Daksi
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Relato de Shela Ketz, sacerdotisa conscrita de Terl. Parte 1. Vocabulário: le'andriz quer dizer "os que não são de Andare", um sinônimo para lacteano.
"Está certo, eu conto. Não tenho o estilo de um bardo-sacerdote, não sou imparcial como um historiador, não passo de uma sacerdotisa terlize que quase não fala em público, mas se vocês sentarem aqui perto de mim eu posso contar sobre o daksi. Desculpem minha falta de jeito, mas podem ter certeza de que o meu relato é verdadeiro. Nós terlizes nunca mentimos.
Antes de tudo, preciso explicar que o daksi tem de tão forte para nós, andrish. É preciso que eu volte muito atrás; para o tempo dos deuses. Diz o Ur, nossa saga, que quando os deuses deixaram o mundo, os povos sagrados lutaram entre si pelo poder sobre as estrelas. Eles são sukak, o povo de Sukassi; terlize, a gente de Terl; ghi'al, os filhos de Ghyla; heakla, os homens dourados; e sheitzi, aqueles do gelo. Esses são os Cinco Povos, os povos sagrados, surgidos do próprio corpo dos deuses; é o que dizem nossos mitos. Lutaram uns com os outros, ghi'als contra terlizes, sukaks contra sheitzis, heaklas contra ghi'als, e Andrameni não teve mais paz. Por muito tempo brigaram; mas um dia perceberam seu erro e escolheram que outro povo governasse sobre eles. Assim escolheram os silkis, o povo negro, que se mantivera neutro na briga. Os deuses vieram abençoar a escolha; e foi previsto que a paz reinaria por mil gerações, até que um rei tirânico ergueria os Cinco Povos por sua liberdade. E assim foi. O que sabemos é que há mais tempo que a História o Rei silki governa toda Andrameni, prometendo respeitar o Conselho dos Povos Sagrados como fonte de seu poder.
Mas voltando então, o daksi. Eles vestem-se todos iguais, sem nada que permita distinguir líder de novato, terlize de sheitzi, em uniformes negros de guerreiros ou diplomatas. Todos negros, sem um friso branco. Usam uma insígnia toda negra, e às vezes até andam em naves pintadas de negro. No entanto, em mil gerações ninguém como eles desafiou o poder do Povo Negro! Seu refúgio é um segredo desejado e por isso bem guardado, mas de todas as partes de Andrameni, a cada dia, homens e mulheres partem para se unir a eles, e só os deuses sabem como os encontram! Em maioria são muito jovens, alguns até de quinze anos, e mesmo seus líderes não chegam aos trinta; ao menos é o que se fala. Porém não são só adolescentes; eu mesma já vi, com meus olhos, homens veneráveis abandonando seus netos para se unir a esses garotos. Já vi guerreiros sheitzis cobertos de cicatrizes e suvenires de guerra obedecendo a ordens de jovens heaklas tão frágeis que mal conseguiam erguer a arma que empunhavam. Vi ghi'als e sukaks lutando lado a lado, ombro a ombro, sem distinção em seus uniformes negros, tal como no tempo em que os deuses eram entre os homens. E também alguns de vocês, le'andriz, lutando como se fossem de nossa gente."
(continua...)
:: Tovah ::
# 20:04 Dizaê!
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:: 26.3.04 ::
Último fora de ordem, eu prometo, pelo menos por enquanto ;-) Gostaria de colocar este trecho especialmente porque ele é *muito* didático...
Na sequência do post anterior, Anie Tame-He'ir, o representante dos heaklas junto ao Conselho dos Povos Sagrados, é chamado pelo coordenador das discussões, o ghi'al Nekt Vamin, para explicar por que convocou a reunião. A primeira frase é da fala de Nekt.
"—(...) Passo a palavra ao irmão Anie Tame-He'ir dos heaklas.
—Saudações, irmãos.
Don estava distraído e quase deu um salto quando o vozeirão de barítono ecoou no teto da sala. Demorou a acreditar que uma voz tão poderosa pudesse sair de dentro da figura miúda de Anie. O heakla espalhou um sorriso ao redor, passou a mão na testa afastando os cabelos loiros e prosseguiu:
—O que nos traz aqui, a nós do Povo Dourado, é uma questão de justiça, de legitimidade e de reconhecimento. Há milhares de anos, os cinco povos sagrados escolheram um sexto, o povo silki, para governá-los. Foi assim desde o primeiro rei anônimo até Lakim Leider, homem bom, justo, íntegro, que será lembrado para sempre por tudo que fez nos 35 anos em que reinou, leal com seu povo, honesto com os demais. Andare, a estrela do tempo, ainda não completou um ciclo desde que Lakim, o terceiro, morreu, deixando dois filhos: La'or, casado com uma jovem do Povo Dourado, Meli Anike-Shan, e a caçula, Laner, que ainda não fez os 22 anos da maioridade do Povo Negro. Pois bem, o trono de Andrameni foi deixado para a jovem Laner, em prejuízo de seu irmão mais velho. Isso porque, pela lei do povo negro, é necessário que o rei seja casado com outro silki, ou alguém da gente sagrada, para manter o título. Só que os silkis contam apenas quatro Povos Sagrados. Os heaklas ficam de fora, e o marido de uma heakla não poderia herdar. E assim Lakim, um homem bom, mas fiel aos seus, deserdou seu filho La'or, pai de seu único neto, que nunca conheceu. Nós, do Povo Dourado, não aceitamos essa decisão; as regras falam em povos sagrados, e a linda Meli pertence a um deles, esse é nosso ponto de vista. Nossos jovens estão postos em armas, algo que eu nunca vi em meus 64 anos, algo que nunca ouvi dizer que tenha ocorrido desde o tempo dos deuses. Eles estão em armas na linha da estrela Iesh, na fronteira dos homens-cavalos, nos arredores de Luok.
Respirou fundo, tomou um gole d’água e prosseguiu, exibindo os braços delgados, dramaticamente:
—Nosso povo é frágil, não temos a força dos ghi’als, nem a guerra nos é natural como para os sheitzis, não temos a saúde dos sukaks e nem mesmo nos multiplicamos tão fácil quanto os terlizes. Nossa única forma de sobreviver é, sempre, negociar. Não temos meios de convencer pela força, ou pelo número. Entrar numa luta, como nossos jovens hoje, é um caminho ainda mais perigoso para nós que para outros povos. Por isso, somente vamos às armas quando acreditamos estar certos. Eu venho hoje a este Conselho pedir que nos diga se estamos certos, para que nossos jovens parem de morrer por pensarem assim. Pedimos a este Conselho que reafirme os heaklas como um dos Povos Sagrados; a partir dessa deliberação, pedimos que confirmem sobre nosso povo a proteção deste Takpa, nas condições do acordo ancestral dos Cinco Povos. E pedimos, ainda, que a partir da afirmação dos heaklas como um Povo Sagrado este Conselho exija aos silkis que cumpram sua lei, reconhecendo o diplomata La'or Leishi, residente em Tala, capital dos heaklas, filho de Lakim Leider e de Elak, rainha de Prashi, como herdeiro legal do trono de Andrameni.
Terminou ainda mais alto, e sua voz reverberou por um instante na cúpula transparente antes que o silêncio voltasse. Deixou a franja correr sobre o rosto, afastou-a para o lado oposto com um gesto e tornou a sentar-se, observando satisfeito o efeito que causara."
:: Tovah ::
# 19:26 Dizaê!
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:: 24.3.04 ::
Gente, meu micro está (teoricamente) voltando hoje da assistência técnica (pela quarta vez em seis semanas de existência). Supostamente curado dos problemas de nascença... Como tudo desde o Ur (heheeh) está nele, não estou postando... mas farei isso logo. Como a única pessoa que votou escolheu o discurso, será discurso então ;-)
Mas estou pensando em colocar as coisas do começo... um pouco de cada vez. Talvez fique mais claro, agora me toquei que está uma bagunça essas idas e vindas na história. O que acham?
:: Tovah ::
# 14:38 Dizaê!
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:: 12.3.04 ::
Este é do quarto capítulo. Trata-se basicamente da descrição da Sala do Conselho, na Torre do Takpa (conselho dos Povos Sagrados), em Gabra. Depois vcs. escolhem: preferem a descrição dos heaklas (capítulo 3) ou o discurso de Anie Tame na abertura do Takpa (capítulo 4)?
Vocabulário: al-Sha'iz, da apresentação de Mej, quer dizer "o sacerdote" (o nome mesmo é Ghel'er-ka, "de Ghel'er", como o de Fhinakl "Nalk"). O mesmo vale para o Tala-ka do nome de Anie, que quer dizer "de Tala" (o sobrenome verdadeiro é Tame-He'ir). Fai-ei (plural de fai ou fax) quer dizer, literalmente, "homens" ou "filhos"; fai, no feminino, ou fax, no masculino, é a forma clássica de tratamento para pessoas de condição social inferior. "Irmãos" (tai-ei) é o tratamento para pessoas de mesma condição social.
"A Sala do Conselho era o coração da Torre. Do salão de recepção, descia-se vários degraus até chegar à porta principal, que dava acesso a uma galeria circular de paredes claras, bastante larga. Diante desta, por outra porta, enxergava-se na sala interna a bancada de pedra, com os símbolos dos povos esculpidos nas paredes do centro vazio. Quando os representantes reais eram recebidos no Takpa, era por essa entrada que chegavam ao lugar reservado a eles; outras cinco portas iguais, ao longo do círculo, permitiam o acesso de cada uma das delegações dos Povos Sagrados diretamente a suas bancadas. A dos ghi’als ficava imediatamente à direita da bancada vazia dos silkis, e Don reparou que o emblema do Povo Negro não estava no lugar que a imagem projetada por Nekt indicara. Bastou olhar para o maka-sha’iz e sentiu sua voz mentalmente: “O povo dos reis, no Takpa, é somente um convidado. Em nossas questões, nem seu símbolo nos acompanha”.
Um corredor interno separava as portas do espaço das delegações, e o jovem guarda, a exemplo dos outros seguranças, ficou em pé no meio dele enquanto os diplomatas ghi’als tomavam posição nas cadeiras à sua frente. Um degrau abaixo, sentaram-se o chefe da diplomacia e seu segundo, e ainda mais baixo, num nicho encravado na bancada de pedra, Nekt ajeitou-se tirando o manto azul. À direita, Valea Naradit, pequena e assustadora como um sa’il, o carnívoro que simbolizava os sheitzis, sorriu e piscou para o líder vizinho, torcendo a grande cicatriz que partia seu rosto de cera. O ocupante seguinte da bancada era Mej Ghel’er-ka, diante do posto vago, com a neta numa cadeira extra bem atrás dele. Anie Tame era o líder colocado na posição oposta aos ghi’als; o encantador Mishe Palaki sentava-se à sua direita, no patamar central, com um meio sorriso colado aos lábios cheios como os de uma garota. A última representante era Heine Zaud, e os olhos negros de Kaylan brilharam ao sentar-se, na cadeira mais da ponta do degrau superior, e encontrar Don quase a seu lado.
Por algum tempo, enquanto todos se ajeitavam, Don ficou admirando a bancada feita num só bloco de pedra negra, as paredes forradas de madeira, os emblemas dos cinco povos pintados em cores vivas, o teto em forma de cúpula por onde entrava uma fraca luz, tudo tão antigo e tão bem cuidado. Quando ninguém mais estava em pé, o líder sukak ergueu-se. Fez-se um silêncio imediato e ele começou a falar, com voz baixa e monótona, em uma língua rude, completamente desconhecida para Don. Logo calou-se; então a jovem com a corrente nas orelhas esticou-se na cadeira e ergueu uma voz completamente diferente, grave, mas feminina, e cheia de ritmo:
—Em nome do anfitrião da Torre do Takpa, Mej al-Sha’iz , traduz Fhinakl Ghel’er-ka. Saudações aos irmãos representantes de seus povos; saudações aos fai-ei diplomatas; saudações aos homens e mulheres presentes. Neste oitavo dia do terceiro décimo do ano dezesseis mil, quatrocentos e dois do Conselho, tenho a grande honra de recebê-los novamente nesta Casa dos Povos Sagrados, convocados por solicitação do irmão Anie Tala-ka dos heaklas."
:: Tovah ::
# 23:09 Dizaê!
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:: 11.3.04 ::
Olá, pessoal que está entrando pelo site do Homem Chavão! Tovah dá as boas-vindas. Não se acanhem de comentar os posts, e se não estiverem entendendo nada mesmo digam qualquer coisa, que eu tento explicar...
Aos frequentadores habituais do "Pensando Alto", vale fazer o percurso contrário!
:: Tovah ::
# 23:00 Dizaê!
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:: 6.3.04 ::
Mais um trecho? Don e Nekt, recém-chegados a Gabra, estão na sala de recepções da Torre do Takpa (Conselho dos Povos Sagrados). É a primeira vez que Don vê de perto a gente dos outros povos. Primeiro foram os sukaks, depois os sheitzis, e agora...
Vocabulário: Terl é a deusa da natureza e do presente. Rheka-maka (e não maka-rheka como escrevi aqui outra vez) é o chefe de um clã terlize. Alma-shaki é uma interjeição, alguma coisa como "meu deus".
"—E daquele lado estão os seus terlizes. Aquela com a pedra verde nos cabelos é Heine Zaud.
Don olhou naquela direção e extasiou-se. Havia apenas oito ou nove deles, todos vestidos com o uniforme verde-escuro que ao invés de ocultar destacava seus corpos sensuais. Heine, uma mulher gorducha de mais de 60 anos, com cabelos alourados presos na frente e caídos pelas costas, conversava com o mais jovem e alto deles, que àquela distância passaria por ghi’al, não fosse a curva bem feita de sua cintura. Como se o pressentisse, o outro virou-se para Don, procurando seu rosto com os olhos redondos e negros, mas o guarda não teve coragem de encará-lo. Nesse momento, Nekt pegou sua mão:
—Você pode me fazer um favor? Vá até Heine e mande minha saudação à líder dos terlizes. Diga que nosso penhor ainda é válido e entregue isto a ela —colocou um pequeno objeto na palma do rapaz.— Diga também que esta noite, após a refeição, discutiremos os termos. Entendeu tudo? Repita, por favor. Esta noite, depois da refeição. Isso, muito bom. Não esqueça de nada. E não esqueça da saudação que ensinei!
Sair de perto de Nekt parecia uma aventura para o jovem, mas ele tentou controlar seu nervosismo ao chegar perto da mulher e dizer, estendendo a mão esquerda:
—Venho da parte do representante dos ghi’als para a líder dos terlizes.
Heine sorriu e tocou a parte de dentro do pulso de Don com o dedo, na saudação de seu povo. Ao fazer isso, percebeu como o rapaz tremia e tomou seus braços carinhosamente:
—Oh, pobrezinho, se não fosse tão moreno estaria vermelho como as horas de sono! Nekt não sabe mais cuidar de seus rapazes. Quer sentar? Não? Então fiquemos em pé. Como se chama? Desculpe, não entendi, devagar.
—Ele disse que seu nome é Don Vari.
O moço de cabelos escuros chegou um pouco mais perto e sorriu amistosamente para o ghi’al, parecendo estranhamente familiar. Don achou-o muito bonito: o rosto sereno, com os traços marcantes dos terlizes, e a boca rosada, quase feminina. Calculou que devia ter sua idade e sua altura, mas provavelmente era mais pesado. Ao observá-lo, recuperou a calma e transmitiu o recado o mais exatamente que conseguiu. Atrapalhou-se ao lembrar do objeto e quase deixou cair ao estendê-lo para Heine, que o examinou entre os dedos:
—Olhe isso! Kaylan, olhe só o que Nekt Vamin mandou. Olhe só: o olho de Terl deste lado, o emblema de Andare deste. É um selo muito antigo que simboliza a aliança entre os povos do Deus e da Deusa. É um presente muito precioso como penhor dessa amizade. Don, agradeça ao líder dos ghi’als e diga que estarei... Onde? Espere. Tenho que deixá-los um pouco. Por favor, converse com Kaylan até que eu volte.
Don sorriu para o rapaz, que estendeu a mão:
—Muito prazer, meu nome é Kaylan Heidl, de Heida de Isinie, secretário da delegação terlize, neto do rheka-maka Tam Heidl, que é Zaud por parte de mãe, mais velho dos dez filhos do segundo dos Heidl com uma Ketz, que serão onze em breve, casado e à espera de minha primeira filha que vai nascer no sexto décimo. Acabei de me formar diplomata, tenho 19 anos e sou o segundo mais velho de minha geração no ramo principal. E você?
O ghi’al deu um sorriso sem graça, tocou o pulso de Kaylan e disse:
—Eu sou Don Vari. De Aduen, Ga’ak. Tenho 18 anos —encolheu os ombros, sem saber o que dizer. —Tenho um irmão gêmeo. É só.
O terlize começou a rir:
—Sinto muito! Esqueci completamente! Falei como se você fosse do meu povo. Aposto que nada do que eu disse faz sentido para você. Por favor, vamos começar de novo, esta é minha primeira missão importante e estou um pouco nervoso. Olá, eu sou Kaylan Heidl, terlize. —Uniu as mãos junto ao peito e estendeu-as para Don, saudando-o à maneira ghi’al.— Você está com Nekt? É a primeira vez que vem a Gabra?
—Se eu disser que é a primeira vez que saio da minha cidade, você vai rir?
—É mesmo? Nunca desconfiava. Você é secretário da delegação?
—Não, estou na guarda pessoal do maka-sha’iz —resumiu. —O que faz um secretário?
—Ah, é como... como um assistente dos outros diplomatas, é o sujeito que prepara as atas, faz resumos, leva os documentos, essas coisas. É coisa para adolescentes, como nós dois... —riram juntos.— Você é taian, então? Tenho irmãs que são gêmeas, de cinco anos. Onde está seu irmão?
"Bem aqui." A frase parou nos lábios de Don, e no mesmo instante ele percebeu de onde conhecia o rosto de Kaylan. Era o terlize de sua visão! Abriu a boca, mas o outro disse em cima:
—Já sei de onde conheço você! É o homem do meu sonho, há dois dias eu sonhei... Que coisa engraçada! É um presente de Terl. Sonhei que tinha um irmão gêmeo... Eu disse a minha mulher que era um gêmeo ghi’al, ela riu de mim!
—Eu também vi você. Não é estranho? Na nave, anteontem. Mas não estava dormindo. Nekt estava testando meus dons, e eu vi... Ele pediu para que eu visse meu taian de alma, e eu vi você. Nem acredito...
—Alma-shaki, parece que os deuses conspiraram para nos ver juntos... Eu nem era para ser o secretário, só fui escolhido porque sou Heidl...
—E nem eu, Nekt mandou me buscar em Aduen faz menos de três semanas...
—O que será que vamos fazer juntos? Temos que fazer alguma coisa juntos, porque tudo isso é coincidência demais para que não tenhamos um destino especial um com o outro... Mas veja, os heaklas chegaram. Como são bonitos, não?"
:: Tovah ::
# 16:50 Dizaê!
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:: 3.3.04 ::
A propósito: a pronúncia correta de Ghyla é algo semelhante a "Djilá". Assim como "ghytz" soa "djitz" e "gha'iz" (andar) soa "djáiz".
O TH, como em "Thara" (sobrenome materno de Mishe Palaki) ou "Lithe" (nome de uma princesa silki), soa como o th inglês em "thin". E o DH, como em "dhiki" (ruim) ou "modhi" (intraduzível, a palavra mais próxima talvez seja "depravação", mas também quer dizer "estupro"), soa como o th inglês em "that".
:: Tovah ::
# 10:44 Dizaê!
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:: 2.3.04 ::
Não estou escrevendo aqui porque estou escrevendo o prelúdio, hehehe!!! O terceiro capítulo já está pronto e comecei o quarto. Aqui vai um trechinho do início do terceiro capítulo para vcs. O herói Don Vari e o maka-sha'iz (supremo sacerdote) Nekt Vamin, na viagem para Gabra para a reunião do Takpa, o Conselho dos Povos Sagrados. Para relembrar o vocabulário: ghytz é o dom do deus do progresso, Ghyla; Sukassi é o deus da vida e da morte; enkaf é uma forma de tratamento, mais ou menos equivalente a "honorável" ou "senhor".
"Na última manhã de viagem, Don acordou sentindo que alguém o chamava. Abriu os olhos e encontrou a face do maka-sha’iz acima da sua, mirando-o intensamente. Para seu espanto, pareceu-lhe ouvir a voz de Nekt dentro de sua própria cabeça, dizendo: “Levante-se, você precisa aprender”. Deu um salto, e o sacerdote recuou com uma risadinha. Novamente a voz entrou em seus pensamentos: “Não se assuste, isto também é ghytz. Você é um bom telepata. Se tivermos sorte, haverá tempo de ensinar. Há coisas mais urgentes”. E a imagem da torre de Gabra, repleta de gente dos mais diversos povos, preencheu sua mente.
—Antes de descermos, há coisas que você tem que aprender —disse Nekt, seu olhar indo incessantemente de Don para a parede. — Não se preocupe tanto com a minha segurança, não é para isso que eu o trouxe. Eu disse que vi seu destino, e vi. Não sei qual é, Don, mas eu vi que você vai ao encontro dele na estrela Nameo. E para isso você precisa saber o que vai ver na Torre do Takpa. Eu sei que você não é um homem do mundo ou um diplomata, mas terá de ser em Gabra. Por isso escute e preste atenção.
O velho pareceu fazer um esforço e Don viu mentalmente uma sala redonda, com uma bancada sextavada de pedra negra ao centro. A seu redor, os rostos inteligentes de pessoas dos Cinco Povos, um de cada vez, todas vestidas com seus uniformes diplomáticos. Castanho para os sukaks, verde para os terlizes, azul-profundo e ouro para os heaklas, vermelho-escuro para os sheitzis. A sexta face da mesa estava vazia, e Don enxergou o emblema de um animal todo negro, a que chamavam sil. “Silki”, disse a voz em sua mente. “O sexto lugar é para o povo do Rei.”
Nekt caiu sobre sua poltrona, suspirando fundo, e cobriu os olhos com a mão. Don lançou-se aos pés dele e não resistiu à tentação de acariciar os cabelos cinzentos. O sacerdote ergueu os olhos, mas parecia ver algo adiante do rosto do jovem.
—Isso... isso é muito complicado, enkaf? É difícil de aprender? É cansativo?
—Sim, isto é complicado. Por mais forte que seja o Dom, projetar imagens é muito difícil. Não conheço ninguém que seja capaz de fazer isso sem treino, como você é capaz de ler pensamentos sem treino. A não ser talvez... não, ninguém é capaz. —Passou a mão no rosto de Don e beijou seus cabelos.— Tudo me cansa agora, criança, estou muito velho para isso, estou velho demais para qualquer coisa. Oh, Sukassi, o que mais me resta para ver nesse mundo? O que ainda devo testemunhar aos 88 anos? Deuses! Eu já não posso mais, dei-xem-me enlouquecer ao menos, não posso mais...
Uma lágrima brilhou em seu olho descorado, mas no instante seguinte já estava em pé novamente, narrando para Don as particularidades de cada um dos povos sagrados, às vezes com sua voz quebrada, às vezes mentalmente."
:: Tovah ::
# 19:44 Dizaê!
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