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:: 22.12.03 ::
Antes de ir, queria contar que achei mais identidades entre Gilles Villeneuve e o personagem Mishe Palaki. Em primeiro lugar, a fragilidade física que esconde uma coragem imensa (embora fisicamente tenham pouco em comum: Villeneuve era baixo, moreno, de traços irregulares; Mishe seria alto para um heakla, de cabelos dourados como seu povo e traços perfeitos). Em segundo, um temperamento pacífico e doce, daqueles que conquistam qualquer pessoa pela simpatia, mas que num determinado momento de crise, quando a fúria vem à tona, traz consequências imprevisíveis, as piores das quais para si mesmos.
:: Tovah ::
# 23:33 Dizaê!
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Caros visitantes deste blog que está me boicotando de novo,
Estaremos em recesso até 4 de janeiro. Vou viajar para Bebedouro e Brotas e só volto quando a revista voltar das férias coletivas :-)) Estávamos precisando de uma arejada.
Para vocês, um ótimo solstício (sou atéia, dá licença?) e um 2004 fabuloso. Até lá!!
:: Tovah ::
# 23:23 Dizaê!
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:: 19.12.03 ::
Estavam se queixando que incensei tanto um escocês e um canadense e esqueci do Maior-de-Todos... Humpf, que calúnia! Vejam só:
Nota no canto da folha diz: 12/11/92 - 9h45.
Fui fã de Ayrton Senna durante 10 anos. Assisti à primeira e à última corrida. Antes de entender de automobilismo, eu já dizia que ele seria campeão. Ele era fã de Clark e Villeneuve, como eu. Todos os meus heróis morreram na pista.
:: Tovah ::
# 18:13 Dizaê!
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Outro ídolo:
Jim Clark (à direita) aos 24 anos, com o dono da Lotus, Colin Chapman (de bigode)
:: Tovah ::
# 12:14 Dizaê!
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Não fique aí se perguntendo o que Andrameni tem a ver com Fórmula 1: tem sim, por incrível que pareça. Pelo menos em cabeça louca de escritor :-)
Explico: ao desenvolver um personagem, uma boa maneira de não se perder é identificá-lo com pessoas que você conhece, com arquétipos ou mesmo personagens de outras obras --qualquer coisa que permita imaginar mais fácil qual será sua reação em determinada circunstância, ou alguma característica de personalidade que você não pensou de imediato e que se faça importante no decorrer da escrita.
Assim, esse repentino retorno do amor pelo automobilismo significou identificar imediatamente dois personagens: Mishe Palaki com Gilles Villeneuve e Don Vari com Jim Clark.
Como Mishe, Villeneuve era uma pessoa de ótimo caráter, cuja franqueza era legendária entre os outros pilotos; apaixonado pelo que fazia, tinha imensa capacidade, mas preferia lidar com as coisas de maneira emocional. Esse jeito meio desmiolado fez com que passasse por uma situação polêmica atrás da outra, durante toda a carreira.
Clark, talvez o melhor piloto de todos os tempos, me lembrou Don Vari automaticamente quando li a respeito de seus modos desajeitados de caipira criado na fronteira da Escócia. Como Don, ele não tinha muita consciência do talento interminável que possuía, o que o tornava extremamente humilde. Meio inábil socialmente e muito reservado, tornava-se temível dentro da pista, como Don ao liderar.
:: Tovah ::
# 11:53 Dizaê!
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:: 18.12.03 ::
Onde você estava em 8 de maio de 1982?
Novamente Gilles Villeneuve
:: Tovah ::
# 19:52 Dizaê!
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:: 17.12.03 ::
Vou aproveitar a recaída braba na minha paixão pelo automobilismo para escrever um pouco sobre outras coisas. Depois voltamos à programação normal ;-)
Para quem gosta do assunto, descobri um site fabuloso, que traz desde estatísticas dos pilotos (de Abecassis a Zunino) até frases do lendário locutor inglês Murray Walker (uma espécie de Galvão Bueno misturado com Vicente Matheus) e o que aconteceu na Fórmula-1 num certo dia (em 17 de dezembro houve apenas corridas extracampeonato, uma em 1960 e outra em 1961).
:: Tovah ::
# 15:09 Dizaê!
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:: 16.12.03 ::
Para quem não sabe quem é o guapo canadense do post abaixo:

:: Tovah ::
# 14:50 Dizaê!
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Gilles Villeneuve
Sem palavras.
:: Tovah ::
# 14:38 Dizaê!
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:: 12.12.03 ::
Vamos voltar um pouquinho? Prelúdio, capítulo 2 --este é da parte já editada. O dom da deusa Terl.
Nekt, o maka-sha'iz (supremo sacerdote), dialoga com Don. Vocabulário: enkaf é um tratamento honorífico, algo como "senhor" ou "excelência". Ukar (ora, vocês já conhecem do outro texto!) é uma planta.
"De repente Nekt saltou para junto dele.
— Feche os olhos. Agora. Concentre-se. Concentre-se em... suas mãos. Sinta seus dedos com a mente. Lembra de seu taian de alma? Diga como é o rosto dele.
—Terlize —respondeu Don, sem pensar.
—Terlize? Don, você não...
Ele abriu os olhos incrédulos e encarou o maka-sha'iz com tal expressão que este calou-se.
—Eu vi, enkaf. Não acredito, eu vi! Tinha os cabelos escuros, olhos escuros, mas era terlize, não tenho dúvida alguma.
—Alguns clãs do povo de Terl têm sangue ghi'al e são mais escuros. O que mais?
—Ele estava... acho que se despedindo de alguém. Ele não quer ir, mas quer, é... como se algo... prendesse-o para ficar... mas é importante que ele vá, e ele está feliz. Eu não acredito, como eu posso ver alguém que nem conheço?
—Mas você viu Anie Tame ontem e não ficou surpreso.
—Você não entende! É como se fosse um irmão que não conheço, e é como... sinto como se estivesse acontecendo agora.
—E está. Esse é o dom de Terl, o telal. E o domínio da Deusa é o presente. Incrível como é fácil para você, é como para os terlizes, para mim às vezes exige tanto esforço! Mas o meu telal é fraco, e o seu é tão forte. Você tem certeza que não quer ser sacerdote?
Mas Don não respondeu. Estava paralisado de surpresa e agitado demais para pensar. Era tão fácil. Bastava concentrar-se em Delok para vê-lo, sozinho, na casa dos pais, na cama que fora deles. E a torre de pedra negra que vira na véspera, vazia, mas com um turbilhão de pequenos sukaks limpando, decorando, arrumando. E Malka com suas torres brancas, um sacerdote displicentemente mastigando seu desjejum sob a janela do maka-sha'iz. Depois, mais nada. A agitação não passou.
—Eu não acreditava —disse por fim.— Eu não achava que isso fosse real. Essa coisa de dons, e deuses nos campos de ukar, e saber o futuro e o passado, ver coisas distantes e falar mentalmente. Eu achava que eram... modos de dizer, mitos. Como eu posso ter isso em mim, se não acredito?
Ergueu os olhos azuis e encontrou o rosto do velho, cheio de compreensão.
—Vou contar um segredo de sacerdote. Uma coisa não depende da outra. O que chamamos de dons são fenômenos naturais do cérebro, que podem até ser desenvolvidos. Não são presentes dos deuses, como pensavam os antigos. Todas as pessoas têm telal, ghytz e suka'en. Uns mais fraco, outros mais forte, mas todos, sempre. Até os labus, os que não são de Andrameni, e que acreditam que os deuses são um, têm os três dons.
—Eu tive um sonho esta noite —disse Don de repente. Contou a respeito da mulher com o olho da deusa e das flores negras. Depois falou de um labu que conhecera. E continuou a falar por muito tempo, quase sem pausa, gesticulando e rindo, juntando um assunto no outro sem conexão, às vezes tão rápido que Nekt não conseguia acompanhar. Nem parecia o mesmo garoto tímido.
O maka-sha'iz ouviu pacientemente, com um meio sorriso, até que o jovem suspendeu uma frase no meio, olhou para os joelhos, suspirou e disse muito baixo:
—Alma-shaki, como estou cansado.
—É normal —sorriu o outro— Tudo isso é o telal despertando. Por mais naturais que sejam, os dons têm seus efeitos. Você não deve ter tido uma noite boa...
Mas Don não ouviu o final. Já dormia profundamente, recostado em sua poltrona."
:: Tovah ::
# 19:08 Dizaê!
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:: 10.12.03 ::
Ainda a continuação, trecho 3/3. Valea e Don.
"Valea soltou o rosto de Don e deu um passo para trás, e o rapaz seguiu com o olhar fixo no mesmo ponto. Ela pôs a mão sobre a cicatriz:
--Esta aqui? Esta foi numa briga. A faca bateu no osso e desviou, ficou feia mas não fez muito estrago. Mas esta outra foi tiro de arma de plasma. Isso dói, você não faz idéia! Esta foi arma de pulso da Guarda Espacial, no tempo em que fomos piratas. Esta também, e esta. Atiraram pelas costas, você acredita? Quem faz isso não tem honra. Esta outra também é de pulso, mas foi a segurança da nave que invadimos, pegou no pulmão, quase morri. Era boa a vida de pirata espacial, mas de vez em quando havia um susto desses. Esta do braço... mais esta embaixo do olho, e esta aqui também, eu tinha a sua idade, fazia um número sobre uma trave a três metros de altura, o suporte cedeu e caí lá de cima, tudo em cima de mim. Foi o pior susto da minha vida, fiquei entre a vida e a morte. Esta do queixo foi numa luta, perdi o equilíbrio e caí com a boca num ferro. Rasgou até aqui. E isto... --põs as mãos sobre os seios murchos, rindo-- é de amamentar cinco filhos. Faltou alguma?
--Esta aqui atrás –pôs a mão sobre o flanco de Valea, e ela sorriu secretamente da repentina desinibição do rapaz.
--Essa aí? Foi outro homem sem honra que não merece nem a memória. Atirou uma faca nas minhas costas, e foi tão incompetente que acertou aí. Eu mesma tirei e acertei-o no peito, olhando nos olhos dele, como se deve.
--Você... matou um homem?!
--Por que o espanto? Sou traiçoeira como um sheitzi! --riu ela.-- Não gosto de matar, mas uma pessoa desonrada a esse ponto não deve viver; essa é a lei dos Naradit. Mas não gosto de matar. Causar humilhação na frente de todos é muito mais eficiente.
Enquanto dizia isso, tomou a túnica das mãos de Don, vestiu-a e amarrou artisticamente o cordão na cintura. Sorriu satisfeita:
--Que tal? Estou o par que você merece?
Sem dizer uma palavra, o rapaz olhou-a, passou as mãos em seus cabelos, puxou-os para trás e ajeitou-os para um lado e para o outro. De repente pediu um grampo a Valea e prendeu-os no alto. A sheitzi olhou-se ao espelho:
--Ficou muito bom! Você sempre fez isso?
--Na verdade, não. Queria saber se podia fazer com... intuição apenas. Agora você está pronta para ofuscar a rainha.
Olhou para o chão, sorrindo envergonhado. Valea lançou-se a seu pescoço:
--Seu caipira! Seu menku! Você é maravilhoso, não precisa ficar sem graça. --Segurou o rosto dele, beijou as duas faces e olhou bem dentro de seus olhos.-- Faz tão pouco tempo, não? Mas você já é como um filho para mim. O que precisar, para sempre, conte com a velha Valea. Droga, vamos embora, antes que eu comece a chorar. Vai estragar minha maquiagem."
:: Tovah ::
# 14:24 Dizaê!
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:: 5.12.03 ::
Pra variar, uma nota pessoal...
Domingo passado comecei a sentir uma coceira estranha, que migrava de lugar --começou no pé, passou para a mão, depois para atrás do joelho e por fim o corpo todo-- e não passava de jeito nenhum, chegou a me acordar de noite. Demorei até quarta-feira para associar com o fato de no sábado ter começado um tratamento contra rinite alérgica; então corri ligar para o otorrino e perguntar o que fazer.
Ele mandou parar com a vacina contra alergia e continuar com o medicamento local. Funcionou: a coceira está quase sumindo.
Ou seja: devo ser a única pessoa do mundo com alergia a remédio contra alergia :-(
:: Tovah ::
# 11:08 Dizaê!
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Estudo para Daksi, prelúdio. Continuação do texto anterior (2/3)
"No horário combinado, Don chegou ao quarto de Valea e da porta recebeu um olhar de aprovação. Suas roupas, as melhores que tinha, eram simples, mas caíam-lhe extremamente bem: calças pretas sem detalhes e uma bela jaqueta ghi’al azul-marinho, com corte amplo e gola em espiral prateada, que ressaltavam seu corpo delgado.
--Está muito bem. Está muito bem. Sente-se aqui perto que logo termino.
Don viu que ela aplicava meticulosamente uma pasta no rosto que disfarçava o aspecto translúcido de sua pele. Valea notou sua curiosidade:
--As mulheres ghi’als não usam maquiagem? Também, se eu tivesse essa cor linda que você tem, não usaria nada. Isto serve para deixar a pele mais uniforme. Menos branca. E ajuda a sumir com as cicatrizes. Olha aqui –mostrou o braço, onde uma longa marca que se estendia do cotovelo até perto do ombro agora exigia atenção para ser vista.
--Precisa de ajuda?
--Não, já acabei. Este aqui é para dar cor à boca, mas é rápido. Pronto, diga o que acha.
Voltou-se para ele e sorriu. Não ganhara muito em beleza, mas seu rosto tinha uma aparência muito menos aterradora com as cicatrizes quase invisíveis.
--Você parece dez anos mais nova --rendeu-se Don.
--Dez anos, só? Não trinta ou quarenta? Ah, que pena, ainda sou muito velha para você...
Deu uma risada saborosa. Depois foi até o armário e tirou uma túnica azul-pálido, longa e ampla, de tecido muito fino. Exibiu-a a Don dizendo em voz reverente:
--É feita de fibra de ukar, e o modelo foi tirado de antigas roupas cerimoniais dos sheitzis. Não é linda? Sinta o tecido. A cor é a dos meus olhos. Foi presente de Mishe quando nasceu a filha de minha filha mais velha. É uma tradição sheitzi, as mulheres se perpetuam pelas filhas e netas, e os homens pelos filhos e netos, então presenteia-se a avó no nascimento da primeira filha de uma filha. Nunca esperaria que um heakla lembrasse disso. Foi a coisa mais perfeita que já ganhei. Este é o cordão, você vai ver como fica bonito. Pode segurar para mim?
Sem esperar resposta, depositou o vestido e o cordão dourado nos braços de Don. Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, Valea puxou a roupa que vestia pela cabeça e ficou nua, com apenas um calção como roupa de baixo. Don instintivamente virou o rosto, e ela deu uma gargalhada:
--Don Vari! Não me diga que nunca viu uma mulher nua?
--Não, não, quer dizer, claro que já --gaguejou ele--, mas não... quer dizer...
--Sua mãe. Ela nunca trocou de roupa na sua frente? Ou alguém na escola militar? Vocês gui'als têm o hábito de esconder o corpo? Que estranho!
--Não... Quer dizer, nós... É uma questão...
Olhou em volta constrangido, até que Valea segurou seu rosto e forçou-o a olhar para ela. Quando ele parou de virar os olhos e fixou-se numa cicatriz em seu peito, ela riu:
--Vocês ghi’als são muito esquisitos."
:: Tovah ::
# 10:00 Dizaê!
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:: 2.12.03 ::
Mais um trecho. Estudo para Daksi, prelúdio, capítulo... (ah, acho que vou parar de pôr, este se passa na noite seguinte ao trecho anterior).
Don ainda estava de prontidão, esperando que os últimos diplomatas deixassem a sala após o encerramento dos trabalhos do dia, quando Valea tomou-o pelo braço:
--Você vai comigo ao jantar com a rainha hoje.
--Eu? Mas por que eu? E por que você?
--Não tenho a menor idéia, mas ela mandou convidar a chefe da segurança e eu não vou sozinha de jeito nenhum. Cada um pode levar uma pessoa, e eu vou levar você.
O rapaz quase entrou em pânico. Não conhecia nada dos modos da corte, não sabia como se comportar, e veio-lhe um medo terrível de reencontrar Laner. Desvencilhou-se da mão de Valea:
--Leve Mishe.
--Ele vai com Anie, é lógico. Heaklas com heaklas, terlizes com terlizes e seguranças com seguranças, não parece bom?
--Mas por que eu? Eu não passo de um caipira desajeitado, vou derrubar coisas, passar vergonha e... e... Não há outra pessoa?
--Você é meu segundo, esqueceu? É a escolha natural. Além disso, vou me sentir o máximo entrando de braços dados com um garoto bonito que podia ser meu neto –piscou para ele, franzindo a cicatriz da face.– Tem uma roupa bonita? Ótimo. Vá trocar-se e me encontre dentro de meia hora no meu quarto. Tenho que parecer bem elegante para estar à altura da bela jovem rainha, não acha?
Deu uma risada e um tapinha no rosto de Don antes de afastar-se, olhando languidamente por cima do ombro.
:: Tovah ::
# 14:12 Dizaê!
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