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:: 13.4.05 ::

***Tocam os clarins, rufam os tambores***

Estou de volta!! De soquinho, mas sua novela preferida retorna a sua programação normal ;-)

Só para não ficar mais três meses sem postar nada - não avancei muito nos últimos tempos-, coloquei um trecho relativamente pequeno. Mas ando escrevendo, sim, e com um pouco de sorte e vontade isto não vai mais ficar às moscas como tem ficado.

Aí embaixo, mais um pedacinho pra matar a saudade.
:: Tovah ::
# 13:25 Dizaê!
...
Capítulo VI, parte 4.

No século passado (hehehe), no trecho anterior, Don indiscretamente acabou ouvindo uma conversa entre Mishe e Anie, enquanto buscava o café da manhã do supremo sacerdote Nekt.

Vocabulário: maka-sha'iz é o supremo sacerdote de um deus; Takpa é o conselho dos povos sagrados.

"Don tentou disfarçar o nervosismo quando retornou ao quarto de Nekt, mas não pode fugir do olhar penetrante do maka-sha'iz.

- Ah, que belo café da manhã! Hm, geléia salgada de fruta-de-macaco! O clima de Daur é ingrato para plantas como essa nefibri'z, não? Não se esqueça de provar! Alguém mais acordou? - perguntou casualmente, sem tirar os olhos do rosto de Don.

- Acho que vi movimento no quarto de Anie - disfarçou, virando as costas.

- Ah! Realmente, Anie é um madrugador. Acordava mais cedo que eu, mas ultimamente estou muito velho para ter sono. Então, como foi a noite de ontem com eles?

- Eles?

- Sim, os heaklas. Anie e Mishe. Que achou deles?

- Ah, Mishe é... - sorriu involuntariamente, lembrando da bela figura debruçada junto a Nalk - adorável. É tão quieto e meigo, passa uma sensação tão boa que dá a impressão de que nada pode acontecer enquanto você está ao lado dele.

- Ah, Mishe, sim, ele é fascinante, e tem um coração tão bom quanto seu rosto. E Anie, o que achou?

- Anie? Não sei. Não sei. Ele me confunde. Uma hora parece tão dono da situação, e na outra tão frágil, uma hora confiável e na outra...

- Confiável! Confiável não. Isso não! Tenha muito cuidado com Anie Tame. Ele é muito esperto. Pode ser um bom amigo nas horas difíceis, mas ele é muito esperto. Não faz nada de que não possa se aproveitar depois. E é um ator. Representa muito bem seu papel. Pode ser o que quiser para impressionar e manipular você. É verdade que me ajudou bastante quando me tornei representante no Takpa; embora seja quase tão jovem quanto Heine ou Valea, ele é o mais antigo membro do Conselho, muito mais antigo do que eu. Mas logo vi que queria me manipular, e isso não vou permitir nunca, não enquanto eu for o Senhor da Torre Branca, o representante de Ghyla. Mas para os heaklas ele é bom, muito bom. Muito talentoso. Acho que vamos ter de aturar essa convivência por alguns anos, ainda."
:: Tovah ::
# 13:20 Dizaê!
...
:: 14.1.05 ::
Tenho uma má notícia para quem está acompanhando o Prelúdio aqui no blog. Não estou conseguindo escrever com velocidade, porque ando tendo muita coisa pra fazer (casa nova pra arrumar... suspiro). Só tenho mais um trecho escrito do capítulo VI para postar (e olha que cheguei a ter dois capítulos inteiros de vantagem), portanto pode ser que os posts fiquem mais espaçados.

Mas ei! não fiquem tão tristes! Não vou parar nem abandonar o projeto. Ele continua, por exemplo, na comunidade Orkut Universo Andrameni. Associem-se!

Fiquem abaixo com o novo trecho. Desta vez caprichei no tamanho, hem!
:: Tovah ::
# 11:24 Dizaê!
...
Capítulo VI, parte 3.

No trecho anterior, Don estava pegando o café da manhã do sacerdote Nekt quando ouviu a voz de Mishe dizendo "Não consigo entender isso, Anie". Vocabulário: Einu, no dialeto heakla, quer dizer "pacífica". Takpa é o conselho dos povos sagrados. Mishemi é um diminutivo do nome Mishe.

"- É como estou dizendo, não há mistério - a voz grave de Anie soou abafada. - Ainda que nosso esforço seja inútil e não consigamos evitar a guerra contra os silkis, se conseguirmos o apoio do Conselho isso pode ser benéfico a nós heaklas, talvez até mais.

- É isso que não consigo entender. Como a guerra pode ser benéfica? Como você pode achar a morte algo indiferente, Anie? Logo você?

- Não acho a morte algo indiferente, Mishe! Como você pode dizer isso, me conhecendo como conhece? Mas guerra, luta, isso não é algo necessariamente ruim. Às vezes as coisas não mudam de outra maneira. Precisamos que as coisas mudem, não importa o meio, senão morreremos. Será que você não entende que os heaklas estão ameaçados? Se tivermos de enfrentar os silkis sozinhos, morreremos todos, por isso paz é fundamental, mas se estivermos sozinhos não será uma paz honrosa. Se tivermos o apoio dos outros povos, a paz já não importa tanto. Se o Takpa nos der razão, e os outros povos lutarem conosco, será o fim do governo silki e sairemos fortalecidos. Essa é a herança que eu quero deixar para você, Mishe, quando for minha hora, liderar um povo fortalecido, e não a paz dos mortos.

- Pare com isso, Anie, pare de falar como se você fosse morrer amanhã, estou cansado dessa conversa. Ainda vai viver muito, mais do que eu até, porque você é mais forte. Não quero liderar um povo à custa de mortes, muito menos da sua morte. Ainda acho que uma paz ruim é melhor que qualquer guerra. Se eu não acreditasse no esforço dos diplomatas, por que seria um deles?

Anie soltou uma gargalhada:

- Você é um diplomata muito talentoso e de muita sorte, Mishe Palaki, que ama tanto a paz que deu à filha o nome de Einu, que já conseguiu apartar muitas disputas e raramente é derrotado. Mas nem sempre os outros estão dispostos a ouvir, não importa quão belos sejam seus olhos azuis. Não é isso que nos ensinam nossos jovens, fugindo para o vale de Bri'eta e para o deserto de Owai para lutar por um silki que por amor virou heakla? Se provarmos que eles têm razão diante de todo o Takpa, não vale a pena lutar para que a razão prevaleça? Pense comigo, Mishe. Se conquistarmos o Conselho, e o Conselho vencer os silkis, será um de nossos diplomatas o homem que estará no trono. Será meu amigo La'or, seu amigo. E a rainha será nossa pequena Meli, que cresceu debaixo dos nossos olhos e adora você como um pai. Se o Conselho perder, será a guerra, mas nós ganharemos do mesmo jeito, porque os silkis terão desrespeitado seu mandato e nós é que estamos na liderança, mostrando os erros dos reis. Não precisamos nos esforçar para um lado, nem para o outro. Ganharemos de ambos os jeitos.

- Não consigo pensar desse jeito, Anie, sinto muito.

- Ah, Mishemi, você é um idealista - riu. - E é isso que eu adoro em você. Mas nem sempre a realidade corresponde aos ideais, o que é uma pena. E se a situação ficar tão ruim quanto pode, você vai precisar ter os dois pés no chão. Você é meu escolhido, e vai precisar estar preparado para seguir essa luta quando eu não estiver mais aqui. Essa é uma luta necessária, porque é justa, Mishe. É nossa liberdade que está em jogo.

- Não há liberdade sem paz - replicou o outro.

- Não acredite nisso. É o inverso que ocorre. Não há paz sem liberdade. A não ser a paz dos mortos. - Subitamente, fez uma pausa. - Estou sentindo um vento, acho que você deixou a porta aberta.

Antes que Don pudesse fugir, o rosto de Anie apareceu no vão da porta e ganhou uma expressão de surpresa ao encontrá-lo. No momento seguinte, no entanto, seus olhos encheram-se de profunda irritação e foi quase com ódio que o diplomata fechou-se no quarto."
:: Tovah ::
# 11:16 Dizaê!
...
:: 4.1.05 ::
Capítulo VI, parte 2.

Sei que ficou pequeno, mas eu não tinha outro lugar pra cortar...

No trecho anterior, Don falava com Nekt a respeito de uma visão em que se via todo vestido de negro.

Vocabulário: enkaf é uma saudação formal como "senhor"; Takpa é o conselho dos povos sagrados, junto ao qual Nekt representa os ghi'als; akun e bri'azl são plantas; mapza é um animal de seis patas usado para transporte e leite.


"Don ficou pensativo, franziu as sobrancelhas e encostou os indicadores na boca. Nekt começou a rir:

- Que atitude mais grave para um rapazinho! Desculpe, desculpe, fique com seus pensamentos, ignore este velho.

Levantou-se e ficou andando em torno do quarto, falando consigo mesmo. Don seguiu-o com os olhos, primeiro levemente zangado, depois divertido. De repente teve um estalo e falou de uma vez:

- Será que o uniforme negro pode representar algo além dos povos? Eu vi a mim mesmo de uniforme negro, será que isso quer dizer alguma coisa nesse sentido? Enkaf, uma visão pode ser simbólica ao invés de real?

- Sim, sim, é claro, me deixe pensar a respeito disso. Não posso pensar de estômago vazio, você não traria meu café da manhã? Então vou pensar sobre sua visão, vou pensar a manhã toda no Takpa, e conversaremos à hora da refeição do meio do dia. Traga algo quente, e veja se tem pão de farinha, não gosto de pão de akun. Se não tiver, poderia trazer bolachas de soldado?

Don sabia que era sua obrigação, mas a forma como Nekt falava com ele fazia parecer apenas um favor de amigo. Assim, foi com prazer que dirigiu-se ao totem-copa na outra ponta do corredor e, teclando alguns botões, preparou uma bandeja caprichada, com dois tipos de pão de farinha, chá de folhas de bri'azl e leite de mapza quente, geléia doce e geléia salgada. Quando preparava-se para voltar, ouviu vozes que saíam de uma das portas, negligentemente entreaberta. Tomou um choque e parou ao reconhecer a voz de Mishe.

- Não consigo entender isso, Anie."
:: Tovah ::
# 13:49 Dizaê!
...
:: 26.12.04 ::
Estamos de volta!! Yess!!

Capítulo VI, parte 1.

Vocabulário: Takpa é o conselho dos povos sagrados; maka-sha'iz é o supremo sacerdote de um deus; Donmi quer dizer "Donzinho", um apelido carinhoso para o nome Don; enkaf quer dizer algo semelhante a "senhor".

"Ficavam no quinto pavimento da torre os quartos dos representantes ao Takpa, exceto o maka-sha'iz de Sukassi, que tinha seus próprios aposentos. Cada um dos líderes dos povos tinha direito a dois seguranças, que dormiam no mesmo andar, divididos em dois alojamentos que ladeavam a entrada única. Do outro lado estavam os sheitzis e terlizes, e coube a Don passar a noite com o barulhento chefe da guarda ghi'al e com o único segurança heakla, um rapaz pouco mais velho que ele, mais alto e forte que os outros de seu povo, cujo pensamento estava na música mais que nas atividades de seus diplomatas.

Don pegou no sono a custo, atormentado pela tagarelice dos dois companheiros, que fizeram uma amizade imediata. Saltou da cama cedo, enquanto a dupla ainda dormia, trocou de roupa e foi direto para o quarto de Nekt. Sem refletir, pôs a palma da mão sobre o sensor de reconhecimento da porta e, para sua surpresa, ela se abriu suavemente. O sacerdote ergueu-se tão logo viu o jovem.

- Ah, que bom ver você, Donmi, tão cedo nesta manhã! Nada melhor que começar o dia com uma criatura jovem, destemida e cheia de vida diante de meus velhos olhos. Já meditou hoje? Então medite aqui ao meu lado, onde está meu tapete, eu sei que tinha trazido um de reserva junto... ah, aqui está! Sente-se, sente-se, faça sua meditação, e não se importe comigo.

Don não costumava dispensar aquele curto tempo diário de mergulhar em si mesmo. Adorava a sensação dos pensamentos voando livres por sua mente. E agora percebia que muitas vezes, desde muito novo, entrara em contato com seus dons ao fazer isso. Mal fechou os olhos e viu a mãe em Aduen singelamente debruçada sobre o trabalho, depois Delok com o uniforme militar, vermelho de se exercitar já àquela hora, tão sério e concentrado. Viu o rosto do pai, mas não deu atenção a ele, e em seguida a si mesmo, vestido com uma roupa de guerreiro toda negra, ereto diante de um céu pálido e vazio. Por um instante pareceu que a roupa tinha faixas brancas no peito e no ombro, mas logo elas sumiram novamente. Ficou tão perturbado que acabou abrindo os olhos. Nekt ainda meditava, entre longos suspiros. Examinou seu próprio uniforme azul-negro, com seus punhos e gola brancos, na tentativa de identificar o que vira, mas não chegou a conclusão alguma. Então esperou, tentando ficar quieto, mas sua respiração ansiosa acabou por tirar a concentração do sacerdote.

- O que houve, Donmi? Não conseguiu meditar?

- Sim, consegui sim - evitou seus intensos olhos claros.

- Então o que foi? Visão ruim? Conte para mim.

- Não, não foi nada, vi meu irmão e minha mãe e... enkaf, qual povo usa uniforme negro?

- Os silkis, claro, o Povo Negro. Eles usam negro com faixas brancas, deixe-me ver, não lembro bem onde, acho que aqui e aqui - apontou o peito e o ombro. - Por que, você viu alguém vestido assim? Ora, quem sabe vá a Ori'an, a Ori'an, veja só, à capital, o menino que eu trouxe de Aduen!

- Não... não foi isso que eu vi, quero dizer, não foi bem isso. Algum povo usa um fardamento todo negro, sem um detalhe branco?

- Não, claro que não, que pergunta! Povo algum usaria negro, todo negro. O preto representa a união dos povos, e é isso que o Povo Negro representa, é o povo que uniu todos os povos. Não é bem isso, espere. O preto, somente preto, representa algo que está além de todas as nações de Andrameni, algo que não pertence a nenhum deles, mas pertence a todos. Como dizer, qual é a palavra? Isso: neutralidade. O preto é a neutralidade. Não é nenhum dos povos, e é todos. Ninguém teria a responsabilidade de tornar-se assim, um e todos ao mesmo tempo. Nem mesmo a Guarda da Estrela, que zela pelo Takpa, usa negro, mas cinzento. Não, nenhum dos povos usaria negro, todo negro."
:: Tovah ::
# 20:50 Dizaê!
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:: 17.12.04 ::
Aviso aos navegantes: este blog não está abadonado :-) Só estou com pouco tempo porque ainda estou arrumando minha mudança... Estamos aqui desde terça-feira e ainda tem muuuuita bagunça sem lugar.
:: Tovah ::
# 09:22 Dizaê!
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:: 1.12.04 ::
Capítulo V, parte 7.

No trecho anterior, Anie estava falando a respeito de Mishe para Don e Kaylan.

"Don pensou que o pequeno heakla fosse explodir em soluços, mas ele apenas desviou o rosto para Mishe e Nalk, suspirou algumas vezes e disse em voz suave:

- Veja como ela sorri para ele. Está fascinada. Mas não vai se apaixonar. Os sukaks não se apaixonam facilmente, ainda mais por alguém que acabaram de conhecer. Difícil prever o que aconteceria se eles convivessem mais. Mas a sheitzi da outra mesa não pára de olhar para ele. Os sheitzis são engraçados. Se ela tiver oportunidade, vai enfrentá-lo, testá-lo, talvez ameaçá-lo. A coragem dele vai terminar de conquistá-la. Isso não é bom, há muitos sentimentos maus naquele olhar. Vocês - virou-se para olhá-los bem dentro dos olhos - , vocês têm um olhar puro. Não sabem quase nada da vida. Muita coisa boa ainda está escondida aí dentro, intocada. Mas não enganem a si mesmos - tornou para Mishe novamente - . Terlizes e ghi'als são muito sensíveis à aparência dos heaklas. Vocês já estão apaixonados. Vocês são jovens, têm esse direito. Só prometam que não vão magoá-lo.

- Isso nunca vai acontecer - as palavras saíram instantaneamente da boca de Don.

- Jamais faria isso - pronunciou Kaylan quase ao mesmo tempo, e seu tom tinha a franqueza dos terlizes. - Mas não estamos apaixonados, nem eu, nem ele, você está enganado.

- Isso vamos ver. Não importa agora. Sua promessa me basta.

Anie sorriu com esforço. Don reparou que seu olhar zanzava sem se fixar em coisa alguma, como Nekt na nave, e sentiu um arrepio. Involuntariamente sua mente tocou a dele, e a angústia voltou a preenchê-la, como se a visão houvesse retornado. O heakla voltou-se para ele assustado e seus pensamentos fecharam-se. Ergueu-se bruscamente:

- Peço licença para me recolher. Já é tarde, fizemos um vôo difícil, estou muito cansado. Digam a Mishe que subi para meu quarto. Até amanhã.

Começou a estender as mãos, mas retirou-as e saiu quase correndo."
:: Tovah ::
# 13:50 Dizaê!
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:: 19.11.04 ::
Capítulo V, parte 6.

No trecho anterior, deixamos o jovem ghi'al Don olhando o heakla Mishe à distância...

"O ghi'al esqueceu tudo: perdeu-se examinando o belo perfil, o esplêndido sorriso, a curva macia da ponta do nariz. Não soube quanto tempo se passou até que Anie quebrasse o silêncio:

- É tão fácil se apaixonar por ele.

Os dois jovens voltaram-se imediatamente. Mas o heakla permaneceu como estava, a cabeça loira afundada na mão e os olhos distantes. Apenas sorriu lentamente.

- Ele não é só bonito. Não é só o que vocês estão vendo. Também o que sentem. É inteligente, sensível, meigo... franco, fraterno... É uma criatura muito especial. Nunca vou perdoar um de vocês se o magoarem.

- Mas eu não sou um amante de homens, isso não vai acontecer! - exclamou Don, enquanto a voz de Kaylan se erguia:

- Sou recém-casado, como poderia amar um homem?

Anie deu uma risada e voltou-se para eles.

- O amor não é assim como vocês pensam. O amor é livre como a flor do ukar. Vai para onde o vento o leva. Nós pensamos que o temos sob controle, mas não, ele vai para onde quer. Isso é o que Mishe ensina; é o que faz dele tão especial. Não importa que bloqueios você tenha imposto ao amor, Mishe consegue derrubá-los. Ele tem esse dom, de despertar o que existe de melhor nas pessoas. E de pior também.

Suas mãos e seu olhar caíram sobre a mesa. Apoiou o rosto nos dedos e suspirou profundamente. Quando se ergueu, seus olhos estavam cheios de expressão novamente, não mais a maldade, mas uma profunda tristeza.

- Não se deixem enganar. Ele é muito corajoso, estóico mesmo, mas não é forte. Mishe é frágil, muito frágil. Passou por coisas horríveis, e tenho medo que outras ainda piores ocorram, sobreviveu a todas elas, mas as cicatrizes, as cicatrizes que realmente contam, cortaram a alma dele muito fundo, e não sei quantas mais ele vai aguentar. Não vou estar sempre por perto para apoiá-lo, não sei o que vai ser dele quando eu não existir. Vocês não podem entender, Mishe é como o filho que não tenho, eu..."
:: Tovah ::
# 19:18 Dizaê!
...
:: 10.11.04 ::
Capítulo V, parte 5.

No trecho anterior, Mishe foi conversar com a sukak Nalk à distância e Don ficou observando um pouco. Vocabulário: alma-shaki é uma interjeição; telal é o dom de Terl; shaska é o mesmo que casa sagrada.

"Quando voltou para os companheiros, notou que Kaylan permanecia absorvido pela cena. Anie, porém, parara de sorrir. Seu rosto estava enterrado nas mãos, e a franja cobria os grandes olhos. Ao sentir o olhar de Don, ergueu-se devagar, os cabelos de ouro toldando-lhe a face; parecia tão cansado, tão mais velho que apenas momentos atrás, e o ghi'al teve ímpetos de tomá-lo nos braços e pô-lo para dormir. Anie afastou a franja, suspirou profundamente, jogando os ombros para trás, e pareceu enfim relaxar. Um jorro de sentimentos, alguns dos quais Don não conhecia nem por nome, fluíram dele e atingiram o rapaz como um soco no rosto. Kaylan deu um gemido, virou-se como se sofresse um golpe e apoiou a cabeça:

- Alma-shaki! Se querem brincar de telal, por favor me deixem fora disso!

- Desculpe! - Anie tocou os cabelos de Kaylan com as duas mãos e sua voz tornou-se doce. - Me desculpe. Me desculpe. Está tudo bem? Perdi o controle, sinto muito. Está tudo bem? Você é sensível, não é? Sensível aos dons. Calma, respire fundo. Isso, erga a cabeça assim. Você é sensível. Dons altos, mas inúteis. Não é uma coisa muito comum, mas não tão rara que eu já não tenha encontrado antes. Foi por isso que deixaram você ser diplomata, não é? Porque não podia ser sacerdote.

- Não, eu... quer dizer, eu fiz testes na casa sagrada de Heida quando tinha uns doze ou treze anos, mas...

- Os Heidl e os Zaud quase não têm diplomatas, todo mundo sabe disso, nem coisa alguma. São clãs de sacerdotes, por isso têm tanto prestígio.

- Não é verdade, minha mãe... - parou confuso. Anie abriu um sorriso, riu alto.

- Sua mãe não é nascida Heidl, não é? Seus irmãos. O que fazem?

Kaylan pensou um pouco e deu uma risada sem graça:

- Minhas três irmãs estudam em shaska. Serão sacerdotisas, as três. Os outros são muito jovens. Quatro têm olhos verdes e também serão sacerdotes. Acho que você não deixa de ter razão. Mas eu escolhi meu destino e faço o que amo.

- Nunca vi um terlize de olhos verdes. Deve ser bonito - comentou Don com candura, mas Kaylan não estava prestando atenção. Seu olhar havia derivado novamente para Mishe, lá distante debruçado, a cabeça quase colada à de Nalk."
:: Tovah ::
# 08:27 Dizaê!
...
:: 3.11.04 ::
Capítulo V, parte 4.

No trecho anterior, Don, Kaylan, Mishe e Anie conversavam quando este último teve uma visão e, ao se recuperar, viu alguma coisa que provocou um sorriso sarcástico.

Vocabulário: al-Bakfai significa "a cantora"; enkaf é uma forma de tratamento a pessoas de status superior.

"Todos da mesa viraram-se para a sombra que se aproximava, e Don reconheceu pela corrente a pequena sukak tradutora. De perto, agora que o ghi'al acostumara-se com o rosto daquele povo, não parecia tão feia, os traços delicados transparecendo por entre os pêlos da face. Ela parou entre Kaylan e Mishe, apertando as mãos um pouco sem jeito, e fez soar sua voz quente:

- Por favor, desculpem, mas não pude deixar de ouvir o poema agora há pouco, é... muito belo. Quem é o autor?

- Ele é - Kaylan apontou para Mishe, sorrindo para ela. - Mishe Palaki-Thara dos heaklas é um grande poeta.

- Ah, sim? É um prazer conhecê-lo. Gostaria muito de musicar um poema seu.

- Seria um prazer - a voz do heakla voltou à timidez que sua expressão aberta negava. - Você é Nalk, não é? Nalk al-Bakfai?

- Ah... ora veja! Nunca imaginei que um heakla ouvisse música sukak! Nalk al-Bakfai sou eu, sim!

- Não me parece que seu trabalho possa ser chamado propriamente de música sukak - Mishe sorriu, desviando os olhos.

- Sim, sim, é verdade, meu trabalho não é nada tradicional, mas... como foi que você ouviu falar de mim? Não posso imaginar a minha gravação tocando na capital dos heaklas.

- Bom, claro que foi numa estrela sukak. Comprei a gravação como um presente para meu filho mais velho no fim do ano passado, quando estive em missão na estrela Knepr. Ele ficaria muito feliz se recebesse uma mensagem sua.

- Olha só! Preciso contar para o meu avô, já tenho um fã heakla! Ninguém achava que isso ia dar muito certo, e agora olha só!

A sukak parecia não caber dentro dentro de seu corpo pequenino de tanta animação, ria e torcia as mãos como uma criança. De repente parou e percorreu com os olhos os companheiros do poeta.

- Gostaria muito que me acompanhasse, enkaf, mas antes peço que me apresente a esses belos homens - correspondeu ao sorriso galante de Anie.

- Claro que sim, mas, por favor, não me chame de enkaf. Chame-me de irmão; é assim que os heaklas fazem. Anie Tame-He'ir, primeiro dos heaklas, você já conhece. Este é Kaylan Heidl, secretário dos terlizes, e Don Vari, da guarda ghi'al. Esta é Thinalk Ghel'er-ka... acho que não falei seu nome direito. Thinakle. Não, Fhinalke. Nunca vou conseguir. Fhinakl? Finalmente!

- Apenas Nalk, para vocês - ela riu do esforço do heakla, percorrendo com os olhinhos espertos o rosto dos dois jovens. Inclinou a cabeça de um jeito peculiar e olhou para o prato vazio de Mishe. - Se já terminou a refeição, gostaria que sentasse conosco um pouco para discutir sua poesia. Isso provavelmente vai garantir que alguns sukaks durmam cedo hoje... - deu uma risadinha. - Arte não é muito bem vista como profissão entre meu povo, ao contrário dos heaklas. Mas os artistas são transgressores, não são?

Estendeu a mão para Mishe, que aceitou, murmurou algo muito baixo e levantou-se ao lado dela. Ele estendeu os belos olhos azuis para Anie e não precisou dizer nada para que o líder abrisse um sorriso e, num gesto, o autorizasse a ir. Don seguiu-o com o olhar, viu-o cumprimentar Mej e outros sukaks na mesa distante, sentar-se e imediatamente mergulhar com a pequena no mundo intransponível dos artistas."
:: Tovah ::
# 15:25 Dizaê!
...
:: 20.10.04 ::
Capítulo V, parte 3.

Eba, comecei o sexto capítulo, estou mais animada pra postar! No trecho anterior, Mishe falava a respeito de seu romance com a mãe de Kaylan. Vocabulário: ghytz é o dom de Ghyla, que permite ver o futuro e transmitir pensamentos.

"Don atreveu-se:
- A parte do amante louco, é verdadeira também, não?

Mishe virou-se para ele com uma expressão indescritível. Baixou os olhos para as mãos do rapaz como se esperasse encontrar algo além do talher. Quando ergueu-os, trazia o mais doce e triste dos sorrisos.

- Sim, é verdade sim. Mas prefiro não falar disso.

- Já faz quase vinte anos, Mishe... - Anie curvou-se para mais perto dele. - Não será hora de tocar no assunto? Não é possível que isso ainda te machuque.

- Machuca. Desculpe. Desculpe, irmãozinho, você sabe. Eu não consigo me afastar do passado.

- Entendo isso, mas é mais que hora de pensar a respeito. Não vou estar aqui para sempre dando apoio a você.

Anie tocou a franja de Mishe, mas num instante afastou a mão e jogou o corpo para trás, com os olhos muito abertos focando o infinito. Don lançou-se para a frente pronto a ampará-lo, mas estacou no meio do gesto ao ser tomado por uma angústia violenta, na qual palavras como sangue, dor e morte dançavam. Tentou organizar seu cérebro e compreendeu que a visão não se formava em sua mente, mas na do líder heakla. "Respire e abra os olhos", foi a única coisa que conseguiu pensar, lembrando-se das palavras de Nekt. Anie voltou-se para ele no mesmo instante e respirou profundamente. Quando terminou de expirar, a visão desaparecera. "Não diga nada a Mishe", as palavras surgiram na mente de Don. "Mishe não tem ghytz, ele pode entender mal."

Só então o ghi'al percebeu que o heakla mais jovem agarrara preocupado a mão do outro. Haviam se passado apenas poucos instantes.

- O que houve, Anie? Fale comigo! Está passando bem?

- Está tudo bem - esforçou-se em sorrir, olhando para Don com o canto do olho. Então o brilho mau reapareceu e ele voltou-se para o lado oposto, com um sorriso sarcástico. - Mas para você ainda não acabou..."
:: Tovah ::
# 13:28 Dizaê!
...
:: 13.10.04 ::
Estou escrevendo pouco, por isso não estou publicando mais trechos da história. No entanto, estou trabalhando na psicologia dos personagens e em mais alguma coisa: o site de suporte do Daksi. Lá vocês já encontravam a introdução linkada aí ao lado, além de hospedar todas as imagens relacionadas. Agora também pode achar o mapa, devidamente atualizado, com um ou dois novos planetas; uma parte de RPG, que conta com a ficha de Mishe Palaki-Thara para o sistema genérico Fudge e quatro questionários de background, dois de Don Vari e dois de Kaylan Heidl; e uma novidade que pra mim é a melhor: as imagens dos emblemas de dois dos povos, os sukaks e os ghi'als (este ainda meio tosco, prometo que vou melhorar).

Visitem e digam o que acham! Toda ajuda é bem-vinda, viu?
:: Tovah ::
# 22:43 Dizaê!
...
:: 6.10.04 ::
Capítulo V, parte 2.

No trecho anterior, Anie estava provocando Mishe na companhia dos jovens Don e Kaylan. A primeira fala é de Anie.

Vocabulário: alma-shaki é uma interjeição.

"- Bem, a parte dos homens-cavalos é verdade - disse por fim, com um sorriso maroto.

- Ei, eu não usei charme com nenhum mapza-fai! Seres de seis membros não fazem bem o meu estilo - riu Mishe de repente, largando o talher e debruçando-se sobre a mesa.

- A parte da garotinha também é real - retrucou Kaylan olhando para o prato e depois para Mishe com um breve sorriso. - É você o heakla, não é? O heakla que seduziu a própria irmã de sua noiva. O poeta que minha mãe amou.

- O que? Mas... como? - o outro deu um pulo da cadeira. - Quem contou isso... como você sabe disso?

- Não foi difícil deduzir. Não havia outro heakla entre os Ketz naquela época - riu o terlize -. Entre os Heidl sim, mas não em Ketar.

- Sim... é verdade. Mas como... como essa história? Ela não... ela não faria... Quem contou isso a você?

- Ela contou. Brindin me contou. Minha mãe era uma entre várias adolescentes que amavam você, não é mesmo? Ela me disse que não havia outro tão belo. Contou como todas, ela e as amigas, todas da mesma idade, apostavam quem o roubaria. Sei que foi ela quem seduziu você. Ela só tinha quinze anos... Quem terlize acreditaria? E havia o poema...
"Rasga
O teu coração com um punhal
Dos pequeninos pedaços
Alimenta minha sede, um pouco ao dia."
É seu, não é?

- Alma-shaki... eu nem me lembrava mais...
"Cega-me para além
Do que seja mãos, cabelos, peito teus."
Não posso acreditar... então Brindin!

- Minha mãe é uma terlize diferente, Mishe. Ela acabou de ser criada por um heakla - a risada de Kaylan soou cristalina. Anie olhava divertido, escondendo o sorriso na mão.

- Ah... queria ter ensinado mais - Mishe mergulhou nas próprias lembranças -. A Brindin e às outras, queria ter tido a paciência de ensiná-las. Elas estavam naquela idade... naquela idade tão ingrata para os terlizes, quando já são formalmente adultos, mas ainda jovens demais para serem levados a sério. Você sabe do que estou falando. Queria ter dado mais atenção a todas elas. Mas aconteceu de eu me apaixonar...

Encolheu os ombros e riu, mais para si mesmo que para eles."
:: Tovah ::
# 16:30 Dizaê!
...
:: 24.9.04 ::
Capítulo V, parte 1.

Tá na hora de mudar de assunto, né? hehehe....

Vocabulário: ghi'en quer dizer "criativo" e é um apelido dos ghi'als, povo de Don.


"Pouco mais tarde, os dois jovens enfrentavam a análise dos olhos escuros e zombeteiros de Anie Tame-He'ir na mesa principal dos heaklas, sentados de cada lado do seu belo novo amigo. O homenzinho mordeu com apetite um vegetal cor-de-rosa de seu prato sem deixar de examiná-los, ergueu as sobrancelhas e disse:

- Não sei como os sukaks conseguem fazer esse akun tão bom. Já tentei de todas as maneiras, não há como ficar igual. Quase sempre que venho a Gabra peço a mesma comida, não é tudo que tem sabor nessa cozinha deles, mas o akun fica simplesmente maravilhoso - de repente seu olhar tornou-se maldoso. - Mas não posso esquecer de dar meus parabéns, Mishe. Você caprichou. São dois belos exemplares de rapazinhos.

- Anie! - Mishe deu uma risada e ficou vermelho até os cabelos.

O líder disfarçou um sorriso e estendeu as mãos para os jovens. Uma pousou suavemente sobre a mão rígida de Kaylan, mas Don puxou o corpo para trás e escondeu os braços sob a mesa.

- Calma, eu não mordo, ghi'en , e já passei da idade de me interessar por adolescentes - deu um riso abafado. - Mas Mishe, ah, esse Mishe, vocês não conhecem sua fama? O conquistador, o que pacificou os homens-cavalos só com suas palavras e seu charme, o homem que arrasta multidões a seus pés com um mero olhar. O poeta sedutor de menininhas, aquele cuja beleza enlouqueceu seu amante até o crime. Nunca ouviram falar?

- Anie... por favor...

O tom lamurioso de Mishe arrancou uma risada do mais velho, que tomou suas mãos com ternura:

- Ah, Mishe, Mishe, há quantos anos eu faço a mesma brincadeira com todos os seus amigos. Não levem nada do que eu disse a sério, filhos, Mishe Palaki-Thara é a criatura mais leal, mais sem maldade que conheço. É inteligente, honesto, até se expõe demais nos seus sentimentos, o que é fatal para um diplomata. Não seria capaz de seduzir por diversão... como eu.

Riu, baixando as pestanas douradas sobre os olhos como se confessasse um pecado. Don olhou fascinado para sua pele lisa, sem uma só marca que denunciasse sua idade, para o rosto tão peculiar que era difícil dizê-lo belo ou feio. Anie pareceu sentir sua análise e encarou-o por um segundo. Seus olhos castanhos, enfim o mais atraente naquele corpo miúdo, pareceriam os de um menino, não fosse a malícia que brilhava no fundo deles."
:: Tovah ::
# 17:12 Dizaê!
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:: 15.9.04 ::
Capítulo IV, parte 9.

No trecho anterior, Kaylan e Don foram apresentados a Mishe, terminando com uma fala dele para o ghi'al. Vocabulário: telal é o dom da intuição e do presente, ghytz é o dom do futuro. Enkaf é equivalente a "senhor".

"Deu um grande sorriso para Don e ofereceu-lhe as duas mãos, convidando-o à saudação heakla. O rapaz apertou-as e sentiu a tensão no homem. Teve vontade de dizer alguma coisa bonita como ouvira de Heine, mais cedo, mas não conseguiu pensar em nada e apenas sorriu desajeitadamente, respondendo:

- Don Vari, dos ghi'als.

Fizeram a saudação ghi'al ao mesmo tempo. Então os belos olhos de Mishe voltaram para Kaylan e ele começou a rir, esfregando as mãos no rosto:

- Alma-shaki, que sensação esta! Parece que mergulhei no meu passado... há 20, 25 anos. Imagine, o filho de Brindin... e você. Não me diga que é de Darik.

- Não, nasci na estrela Ga'ak.

- Ah... na fronteira distante. Há preciosidades arqueológicas lá. Darushel, que vocês dizem Darusl, um paraíso para os historiadores... Ainda quero conhecê-la. Morei em Malka, estudando justamente história antiga, e não tive a oportunidade de ir à fronteira distante.

Tornou a rir, desta vez mais relaxado.

- Não sei quanto a vocês, mas estou com fome. Gostaria de tê-los à minha mesa para continuarmos a conversa. Quero notícias de Brindin e... - Don estremeceu quando os olhos mergulharam novamente nos seus - não sei, mas eu sinto... algo que não sei explicar, é como... não adianta, só o telal não é suficiente para descrever, talvez eu precisasse de ghytz. É como se algo muito importante conectasse vocês dois... e eu.

Don e Kaylan entreolharam-se surpresos, e pareceram percorridos pela mesma corrente elétrica quando as mãozinhas quentes de Mishe pousaram em seus braços. Sua voz baixa e lenta, com o acento sensual tão característico dos heaklas, hipnotizou-os.

- Sei que tenho idade para ser pai de vocês e que minha conversa só pode dar sono a dois jovens. Mas eu peço que esta noite jantem à minha mesa. - Olhou para um e para outro e de repente retraiu-se. - É claro, se estiverem disponíveis e seus líderes permitirem...

- Acho que não há problema... - começou Kaylan, mas Don disse quase ao mesmo tempo:

- Eu não posso... eu acho que não posso, meu dever é...

- Você vem sim, Don, vamos! - Kaylan tomou seu braço com um entusiasmo que contrastava com seus habituais modos contidos. Havia uma chama no fundo dos olhos negros. - Peça a enkaf Nekt, não vai ter problema, uma noite só de folga. E acho que ele não vai negar nada a esse um, hoje.

Virou-se para o heakla, que devolveu-lhe um sorriso tímido.

- Acho que ninguém negaria nada para alguém como ele, jamais - disse Don, sem pensar. Imediatamente, Mishe baixou o rosto e sua pele cor de ouro tingiu-se de carmesim. Sua voz saiu quase inaudível:

- Vocês não têm idéia de que mestre rigoroso Nekt pode ser. - Ergueu a cabeça para Don, evitando seus olhos. - Falarei com ele, isto é, se você permitir."
:: Tovah ::
# 19:45 Dizaê!
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:: 8.9.04 ::
Capítulo IV, parte 8.

Espero que agora algumas coisas comecem a fazer sentido ;-) No trecho anterior, deixamos conversando Nekt dos ghi'als, Heine dos terlizes, Anie dos heaklas e o belo Mishe, próximos a Kaylan e Don. A última frase do trecho é uma fala de Anie a respeito de Mishe. Vocabulário: rheka-maka é o chefe de um clã terlize. Alma-shaki... preciso repetir? ;-) Suka'en é o dom de conhecer o passado, e também a simples memória.

"Pôs a mão no rosto do mais jovem, com cumplicidade. Era evidente o orgulho que tinha de seu discípulo. A intimidade entre eles parecia tão inusitada para Don que ele desejou saber o que significava para um heakla. Mal formulara o pensamento, Anie virou-se bruscamente em sua direção e olhou-o com indisfarçável surpresa. Quase no mesmo instante, o ghi'al soube, de uma forma que não conseguia explicar, que era um costume do Povo Dourado os amigos trocarem carinhos daquele modo. Mas não aprendeu mais pois, no segundo seguinte, o líder do povo dourado já controlara a perturbação e dirigia-se para Heine novamente:

- Não sei se você sabia, mas Mishe é adotivo do povo feiticeiro.

- Kaukine terlize? Não me diga! De qual clã, dos Ti'er ou dos Sandz? Ou será dos Eli'or? Eamen, o líder de nossos diplomatas, é Ti'er da estrela La'are...

- Não, na verdade, nenhum da fronteira. Morei alguns anos com os Ketz, em Ketar de Isinie - murmurou Mishe. - Mas isso faz muito tempo...

- Olha que engraçado! Dos Ketz de Ketar! Nosso secretário é Ketz por parte de mãe, quem sabe você não a conheceu. Kaylan? Pode vir até aqui?

O jovem aproximou-se, seguido de Don, enquanto Heine continuava:

- É claro que os Ketz não são um clã de muito prestígio, mas Kaylan pertence aos Heidl. Heida não é muito longe de Ketar, talvez você conheça.

- Heidl! - Mishe exclamou erguendo os olhos, primeiro para ela, depois para Kaylan. Sua mão tremia quando tocou o pulso estendido do rapaz.

- Muito prazer, sou Kaylan Heidl, de Heida de Isinie, neto do rheka-maka Tam Heidl, que é Zaud por parte de mãe...

- Você é o filho de Kalum Heidl, filho de Tam Heidl... sim? - o heakla mirou-o com ansiedade.

- Sim, sou o mais velho dos dez filhos de Kalum Heidl e Brindin Ketz-Heidl... você conheceu minha mãe?

- Alma-shaki! Eu vi você uma vez só... assim! - fez com as mãos o tamanho de um bebê. - Está um homem feito... não posso acreditar, o filho de Brindin! Você parece com seu pai. Ele era um rapaz tão doce, como ela merecia. Veja só isso, o filho de Brindin. Está mais alto que eu.

Passou as mãos no rosto dele, como se não acreditasse, e de repente deu-se conta da presença de Don. Olhou dele para Kaylan, depois de volta para ele, e disse:

- É seu irmão?

- Don? Meu irmão? - Kaylan riu nervosamente. - Não, claro que não, é um amigo, ele...

- Claro. Ele é ghi'al, claro, não é um meio terlize. Não sei por que disse isso. Vocês nem mesmo se parecem. A não ser... Eu sinceramente não sei por que disse isso.

- Suka'en - intrometeu-se Nekt. - A memória é confusa às vezes. Ele não lembra Edei?

Mishe pareceu levar um choque. Aproximou-se de Don, examinando-o atentamente. Pôs a mão sobre o rosto do jovem, fechou os olhos e suspirou muito fundo:

- Não como eu me lembro dele. Posso vê-lo como era. Era tão moreno quanto este, sim, e tinha os mesmos cabelos, os mesmos olhos azuis, mas o olhar... - abriu os olhos dentro dos olhos de Don, paralisando-o. - Você tem um olhar tão ingênuo e confiante, enquanto Edei... Alma-shaki, você tem tanto a viver ainda. Pensando bem, se eu não o tivesse conhecido tão bem talvez achasse... Mas você não tem culpa de nada. Eu sou Mishe Palaki-Thara, dos heaklas."
:: Tovah ::
# 23:23 Dizaê!
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:: 2.9.04 ::
Capítulo IV, parte 7.

No trecho anterior, o sacerdote Nekt deixou Don e Kaylan conversando na saída do primeiro dia do Conselho. Vocabulário: maka-sha'iz é supremo sacerdote. Alma-shaki é uma interjeição similar a "meu deus". Enkaf é similar a "senhor" ou "senhora".

"Mas os dois nem sequer começaram a conversar quando ouviram uma voz máscula, mas suave, bem perto de si:

- Nekt. Há quanto tempo!

Viraram-se ao mesmo tempo. O lindo sorriso de Mishe Palaki-Thara, e seu corpo inteiro irradiando felicidade, chegara até o maka-sha'iz, tão perto deles. Começou a unir as mãos no peito, mas Nekt, remoçado pela alegria, segurou-o pelo braço:

- Não, pare com isso, você não me deve honras - atraiu-o para si e abraçou-o muito apertado, beijando seu rosto como a um velho amigo. Mishe retribuiu o beijo e segurou o rosto de Nekt junto ao seu, mas o ghi'al afastou-o um pouco:

- Espere, deixe-me olhar para você. Deixe-me ver esse seu rosto, olha só, você continua exatamente igual!

- Claro que não, eu envelheci bastante, já faz tantos anos... - sua voz era como Don imaginara, doce e um pouco grave, apenas mais tímida e ligeiramente metálica.

- Quantos? Quinze, vinte?

- Foi na época que meu filho nasceu... Quinze anos. Minha nossa, você não envelheceu nada.

- Você já me conheceu velho - riu Nekt.

- Não, você nunca foi velho. No corpo talvez... Mas seus olhos... Alma-shaki, que bom ver você!

Preparava-se para beijá-lo novamente quando percebeu a aproximação de Heine, acompanhada por Anie. Deu um passo para trás e estendeu respeitosamente a mão esquerda:

- Enkaf. É um prazer conhecê-la.

- Então você é o famoso Mishe Palaki. Onde Anie escondeu você todo esse tempo? - disse ela, tocando seu pulso. Ele baixou os olhos e, retraindo-se, balbuciou qualquer coisa que Don não entendeu.

- Afinal, tenho que aproveitar este talento raro - sorriu o líder heakla, acariciando o braço do outro, que se recolheu ainda mais. - É culpa minha, Heine, Mishe passou quase todo o ano passado em missão. Agora a presença dele vai ficar mais comum, acredito."
:: Tovah ::
# 09:10 Dizaê!
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:: 29.8.04 ::
Capítulo IV, parte 6.

No trecho anterior, terminou o primeiro dia da reunião do conselho dos povos sagrados. Vocabulário: maka-sha'iz é o supremo sacerdote de um deus; enkaf é equivalente a "senhor" ou "honorável".

"Nekt foi o último dos ghi'als a sair da Sala do Conselho. Veio rindo divertido, e ao passar por Don colocou sua mão ossuda sobre o ombro do rapaz, olhando-o com simpatia:

- E então, o que achou? Não foi uma ótima sessão?

Don encolheu os ombros:

- Foi tudo tão... confuso! Eu tive a impressão de que vocês não chegaram a lugar algum.

- É mesmo? Que curioso! Achei a discussão tão proveitosa! Veja, em apenas uma tarde conseguimos completar uma resolução! Está certo que havia consenso, o que não é comum, os povos são tão... diferentes uns dos outros, não acha? Está com fome?

- Um pouco. Bastante, na verdade.

- Então vamos? - olhou em volta, para os diplomatas que o cercavam. - Vamos jantar, então? Nos apressemos! É pena, Don, que nossos anfitriões não apreciem um guisado de menku, à maneira da estrela Ga'ak. Gosta de carne de menku?

- É claro! Todo menku gosta de carne de menku - ousou pilheriar, fazendo um trocadilho entre o nome do animalzinho de asas e a expressão andrish que indicava uma pessoa sem trato social, um caipira da fronteira, como ele. - Mas acho que os sukaks não comem nada que tenha morrido por suas mãos.

- É verdade! Nem carne de animal, nem raiz, nem planta que seja arrancada. Está aprendendo rápido, nosso menku! Eu não disse a vocês que ele podia ser qualquer coisa que quisesse? Pode ser diplomata, ou sacerdote. Ou poeta. Gosta de escrever? Eu sabia! Tudo bem que não tenha o hábito, você aprende. Ele aprende tudo rápido. Tenho certeza que ainda vai ser motivo de muito orgulho para o povo ghi'al.

Deu um abraço rápido e carinhoso no jovem, que olhava para o chão, encabulado. Então Don reparou que todos haviam saído da sala e iam concentrando-se junto à porta de saída. Kaylan foi empurrado para junto dele e os dois sorriram um para o outro.

- É esse seu novo amigo? - disse Nekt, examinando o terlize de alto a baixo.

- Meu nome é Kaylan Heidl. É um prazer conhecer o supremo líder dos ghi'als - a voz do rapaz tremia ligeiramente enquanto saudava o maka-sha'iz com as mãos postas. Nekt retribuiu estendendo a mão para tocar seu pulso.

- Tão jovem! Diplomata, não é? Tão jovem... esperava algo diferente. Como alguém tão jovem pode ensinar tudo que ele tem a aprender? Ah! velho, deixe isso para Ghyla.

- Desculpe, não entendi, enkaf. Posso ajudá-lo?

- Ah! Coisas de velho, rapaz... coisas de velho. Vá, Don, fique com seu amigo, quando precisar de você eu chamo."
:: Tovah ::
# 19:54 Dizaê!
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:: 22.8.04 ::
Capítulo IV, parte 5

Finalmente, hem!! No trecho anterior, o líder ghi'al Nekt Vamin, coordenando a reunião do Conselho, resumiu as solicitações dos heaklas e abriu às discussões do primeiro ponto, sobre a reafirmação de que aquele povo é um dos cinco povos sagrados do conselho.

Vocabulário: ukar é uma espécie de flor, tida como sagrada; flokhiz, que quer dizer "idealista", é um apelido dos heaklas.

"Antes que o ghi'al se acomodasse, já Mej erguia-se do outro lado, agitado. Sua voz soou metálica enquanto entoava sua algaravia, no meio da qual Don supôs reconhecer uma palavra semelhante a "sagrado", e nada mais. Foi breve, e a garota de nome impronunciável traduziu:

- Disse Mej al-Sha'iz: não há questão alguma nesse ponto. Nossas histórias contam que os heaklas surgiram quando Terl e Ghyla se amaram nos campos de ukar, e portanto são um dos povos surgidos dos próprios deuses, como os sukaks, os terlizes e os ghi'als antes deles, como os sheitzis depois. Existe a assinatura de um heakla no Pacto de Gabra, que criou este Conselho 16 mil anos atrás, e desde então eles foram, são e sempre serão considerados parte da Gente Sagrada. Não há o que discutir. Este Takpa deve reafirmar, publicamente e quantas vezes forem necessárias, que heaklas e sheitzis e sukaks e ghi'als e terlizes são os Cinco Povos que representam os deuses no poder de toda Andrameni.

O que se seguiu foi a discussão mais extravagante que Don teve a oportunidade de presenciar em toda a sua vida. Um a um, os representantes de cada povo, e alguns diplomatas também, foram erguendo-se e concordando com as palavras de Mej; uns ressaltavam que a maior prova era o fato de o próprio Ur, a saga que contava a origem de Andrameni, citar os heaklas como filhos dos deuses; outros preferiam lembrar as contribuições que os sonhadores e intelectuais flokhiz haviam dado para a filosofia, o direito, a arte e mesmo a religião ao longo dos milênios. Mas não houve uma só contestação do pedido de Anie; mesmo assim, as discussões atravessaram a tarde, e o estômago adolescente de Don dava saltos quando foi aprovado o texto de um documento público, assinado pelos cinco representantes, reiterando que os heaklas eram, sim, um dos Povos Sagrados, e deveriam ser tratados como tal."

:: Tovah ::
# 20:42 Dizaê!
...

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